Imprensa internacional sobre Serra, quem é você? |
Mas uma coisa se destacou sem exceção: nenhum jornal americano ou europeu levou realmente a sério a possibilidade de o candidato José Serra ou mesmo Marina Silva ganharem a eleição. Quando citados, eles assumiram uma posição de coadjuvantes tanto nos jornais que exploraram os temas sociais quanto entre os que acharam o lado guerrilheiro de Dilma mais interessante para destacar.
Outro ponto é que, ao comparar alguns dos principais jornais dos dois lados do Atlântico Norte, os europeus pareceram ter acesso a uma cobertura mais ampla.
Os espanhóis que compraram jornais ontem se depararam com reportagens sobre a "nova classe média brasileira" e a "revolução social". Independente da linha editorial, a imprensa escrita do país chama mais a atenção para as mudanças sociais dos últimos anos do que para o perfil dos candidatos - o de Dilma, já que poucos mostraram dúvidas quanto à sua eleição.
Tanto o "ABC" quanto o "El Mundo", jornais tidos como mais conservadores, falam da "nova classe média" que garantiu a escolha da herdeira de Lula. O "El Mundo" reclama da falta de projetos a serem discutidos na eleição: "O que não está escrito não pode ser cobrado", replica o repórter, com tom desconsolado.
O jornal "El País", que tem um perfil mais identificado com a esquerda espanhola, destaca também a ascensão social de parcela da população como o fenômeno mais importante a influenciar o pleito. "A classe C decide o futuro do Brasil", afirma o título da reportagem do diário madrilenho.
O "La Vanguardia", de Barcelona, dava desde anteontem a disputa como já definida a favor de Dilma, graças sobretudo à "revolução social" no Brasil.
Na França, "Le Monde" destacou a "herdeira designada por Lula", mas também foi atrás da mudança social. Seu correspondente visitou favelas na Rio de Janeiro, destacando as desigualdades ainda existentes. Em Jacarepaguá, compara uma comunidade carente com a riqueza da Barra da Tijuca, ali do lado.
O "Libération", mais à esquerda, foi a São Paulo e falou dos avanços em Heliópolis.
O destaque dado pelos países de língua latina às mudanças sociais contrasta com os anglo-saxões, que preferiram se centrar na figura de Dilma e na "continuidade" do governo Lula.
No Reino Unido, um meio termo entre o interesse pelas questões sociais e o interesse pelo perfil da "ex-guerrilheira".
O "Daily Telegraph" compara a imagem da candidata à dureza da baronesa Margaret Thatcher, o que chega a ser engraçado, dada a disparidade da trajetória das duas.
O "Guardian" vai ao Hotel Fasano no Rio de Janeiro para falar da "riqueza" do Brasil e fala de passagem sobre a candidata do PT. O correspondente mostra um certo deslumbramento com a noite passada no bar do hotel, o Londra. Um deslumbramento com o que chama de alta sociedade e gente bonita e descolada - não foi bem isso o que ele disse, mas como tradução livre o espírito foi esse.
O tom entretanto destoa mais quando se compara a cobertura europeia com a americana. Em dia no qual o Departamento de Estado dos EUA emitiu um alerta de risco de ataques terroristas para os americanos viajando pela Europa, a linha da grande imprensa se mostrou mais voltada para mostrar a "ex-guerrilheira".
Mesmo no mais liberal "New York Times" a primeira menção à candidata brasileira dizia que "na América Latina, líderes mulheres não causam estranheza, mas poucas podem igualar a trajetória radical de Dilma Rousseff, a ex-líder guerrilheira marxista de 62 anos que deve se tornar a primeira mulher presidente do Brasil".
Pelo resto da reportagem, o "Times" apresenta a situação política e econômica do país sem grandes temores de radicalismo, mas quem leu só o início da matéria poderia até mesmo ter ficado com essa impressão.
Essa impressão poderia ser reforçada se leitor passasse aos serviços de notícia pela internet. O MSNBC, um dos maiores do setor, apresenta Dilma também como a "ex-líder rebelde marxista" que agora promete continuar as políticas pró-mercado de Lula.
Alguns jornais entretanto se descolam dessa linha. O enviado especial do "Miami Herald" cita apenas de passagem a vida guerrilheira de Dilma e se centra na continuidade do governo Lula.
Nesse caso, a cobertura do "Miami Herald" se aproximou muito mais da feita pelos jornais latino-americanos.
Celso Jardim com informações do Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores
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