quinta-feira, 19 de maio de 2011

O sistema eleitoral ainda é um retrato do velho Brasil

Unidade das esquerdas para avançar nas transformações
A reunião realizada no início desta semana entre o ex-presidente Lula e dirigentes dos principais partidos de centro-esquerda e esquerda do país – PT, PSB, PDT e PCdoB – foi um importante fato político pelas questões que estiveram no centro dos debates: a reforma política e a unidade das esquerdas.
É positivo que o ex-presidente dedique esforços à coordenação política em torno de questões de projeção estratégica, para além dos temas do cotidiano, próprios da agenda política governamental e congressual. E que dialogue em pé de igualdade com os partidos coirmãos, o que em nada diminui, ao contrário, somente eleva, a estatura da sua liderança.
Nada é mais urgente no Brasil do que uma reforma política profundamente democrática e moralizadora. Os debates sobre tema tão crucial, entre as forças políticas e com a opinião pública, devem partir de uma constatação óbvia: o sistema político-eleitoral brasileiro encontra-se falido, sendo necessário soerguer um sistema democrático consentâneo com a nova situação política do país.
Vivemos uma época de grandes transformações, de protagonismo de forças renovadoras na vida nacional, da necessidade de empreender reformas democráticas estruturais, de catapultar o desenvolvimento do país combinado com a defesa da soberania nacional, a valorização do trabalho, a distribuição da renda e a justiça social. No entanto, o sistema político-eleitoral, viciado e anacrônico, ainda é um retrato do velho Brasil dominado por classes sociais retrógradas.
Unificar propostas que sejam o denominador comum entre as principais forças de centro-esquerda e esquerda da base de apoio ao governo da presidente Dilma é um passo importante para defender o voto proporcional, a liberdade de organização partidária, abolindo toda e qualquer cláusula de barreira, a igualdade de oportunidades entre os diferentes partidos independentemente do seu tamanho, o combate à influência do poder econômico no processo eleitoral, o enfrentamento do monopólio da mídia, o financiamento público dos partidos e das campanhas eleitorais.
Esta unificação de propostas pressupõe a adoção de uma postura claramente favorável ao reforço das posições comuns, o que requer o combate a qualquer visão utilitária ou hegemonista. Nada justifica a insistência em propor medidas antidemocráticas e antiunitárias como a proibição de coligações proporcionais. Em caso de adoção das listas partidárias, a esquerda em seu conjunto só terá a ganhar se se apresentar através de listas unitárias, em que todas as partes sejam contempladas.
Se as esquerdas chegarem a um denominador comum sobre a reforma política, terá sido dado um grande passo adiante. Mas a importância do encontro que tiveram com Lula não se esgota nesse aspecto e é nisto que reside seu sentido estratégico principal.
Os embates políticos e eleitorais dos últimos anos foram coroados de êxitos, principalmente as três vitórias sucessivas nos pleitos presidenciais, entre outros fatores porque as esquerdas foram capazes de se unir. Mas o grau de unidade alcançado, assim como a evolução objetiva da situação política, ainda não foram suficientes para superar uma limitação: a dependência da adesão a um projeto de mudança de forças políticas de centro e centro-direita, algumas neoliberais e conservadoras dispostas a aderir a uma coalizão eleitoral vitoriosa por mero oportunismo, o que condicionou enormemente o governo do ex-presidente Lula e ainda condiciona o da atual presidente.
A unidade das forças de esquerda em torno de um programa transformador é um fator indispensável para alterar a correlação de forças no país, o que não ocorrerá apenas com a evolução vegetativa da situação, mas também com o fortalecimento de convicções e vontade políticas que se traduzam em esforços para organizar e mobilizar as inesgotáveis energias transformadoras do povo brasileiro.
Mais de um quarto de século decorreu desde o fim da ditadura militar e o advento da chamada Nova República, período durante o qual o país se democratizou, o povo amadureceu e elevou sua consciência política. A expressão mais concentrada dessa evolução foram as vitórias eleitorais alcançadas sob a liderança de Lula e, a partir de 2010, de Dilma Rousseff. Em todo esse período, tem sido enorme o peso de forças centristas na realização de mudanças democráticas. Em dado momento, tais forças convertem-se em freio, porquanto seus interesses e a política que seguem correspondem não às forças sociais transformadoras da sociedade brasileira, mas às conservadoras.
Quando isso ocorre, o passo seguinte no sentido da radicalização do processo democrático, da realização de reformas estruturais, da conquista do desenvolvimento nacional soberano, do progresso social e de um novo salto civilizacional para o país, depende de um aprofundamento programático e de uma tomada de posição unitária das forças de esquerda.


Com Portal Vermelho

Nenhum comentário:

Postar um comentário