quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Os que construiram a vala dos sem nome



O cemitério Dom Bosco, conhecido como cemitério de Perus, foi construído pela prefeitura de São Paulo, em 1971, na gestão de Paulo Maluf.

No início, recebia cadáveres de pessoas não identificadas, indigentes e vítimas da repressão política. Todos eram enterrados sem nome e sem reconhecimento.

Fazia parte de seu projeto original a implantação de um crematório, o que causou estranheza e suspeitas até da empreiteira chamada a construí-lo, tudo muito estranho.

O projeto de cremação dos cadáveres de indigentes, do qual só se tem notícia através da memória dos sepultadores, foi abandonado em 1976. Ano em que os movimentos contra o regime militar começaram a crescer nas ruas.

Os mortos pela ditadura militar foram ocultados pelos assassinos num cemitério de mendigos, indigentes e desconhecidos.

Depois, foram empilhados na vala comum com miseráveis de todo tipo, gente que, em vida, já era desaparecida, mais que política, desaparecida na sociedade.

Os militantes mortos, o sumiço dos corpos foi um prolongamento fúnebre da vida clandestina, de quem lutava por liberdade.

Durante a gestão da prefeita Luiza Erundina, quando descobriram as ossadas, criou-se a Comissão Especial de Investigação das Ossadas de Perus.

Familiares exigiram a transferência das ossadas para o Departamento de Medicina Legal da UNICAMP, pois no IML/SP ainda atuavam médicos legistas que assinaram laudos falsos de presos políticos mortos em tortura, como Harry Shibata.

Muitos foram identificados e tiveram suas identidades reveladas com a confirmação de familiares, poderia ser o local de desova do DEOPS e do DOI-CODI.

O Ministério Público acusa várias pessoas responsáveis pelos órgãos públicos na época, entre elas o então prefeito Paulo Maluf, o delegado Romeu Tuma, e o médico legista Harry Shibata, conhecido por assinar os laudos falsos dos presos mortos durante a ditadura (1964-1985).

As caveiras de Perus, sem nomes apenas com um número, eram caveiras de "desconhecidos", segundo os registros do próprio cemitério que marcaram o episódio como os vivos condenados.

Um comentário:

  1. Celso, de onde você retirou a imagem de Frederico Mayr? Algum vídeo? Estou pesquisando, mas não acho nada a respeito de Frederico em vídeo. Obrigado.

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