terça-feira, 2 de março de 2010

Memórias escondidas da repressão

Porque será que escondem?
Mais um arquivo secreto do DEOPS (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) foi encontrado depois de tantos anos misteriosamente, desta vez no prédio do Palácio da Polícia de Santos.
Os documentos pertencem ao II Exército e estavam abandonados (ou escondidos?) em uma sala com quase 20 m2, trancada com cadeado, no segundo andar do Palácio da Polícia, atrás de dois elevadores.
O arquivo com documentos datados entre 1943 a 1982 e pode ter entre 6.000 a 9.000 dossiês, em uma estimativa simples. O DEOPS foi a polícia política no Estado à época da ditadura militar (1964-1985).
Os investigados são sindicalistas, comunistas, guerrilheiros, políticos, padres e líderes estudantis. Não há ordem alfabética ou cronológica no armazenamento. As pastas são organizadas por temas, sindicato dos estivadores, jornalistas, movimento estudantil, Marighella, entre outros.


Os crimes serão sempre descobertos?
A União terá de fazer o exame de DNA nas ossadas encontradas no cemitério Dom Bosco, em Perus, São Paulo, e levadas para a Unicamp há quase 15 anos. Muitos restos cadavéricos estão no cemitério da Consolação. 
Construído no começo dos anos 70, o cemitério de Perus foi, durante muito tempo, uma espécie de depósito de cadáveres sem identificação de ativistas de esquerda e indigentes.
A Justiça determinou que a União Federal e o Estado de São Paulo realizem exames de identificação nas ossadas encontradas na vala comum do cemitério de Perus, local usado para ocultação de corpos de desaparecidos políticos vítimas da repressão durante a ditadura militar (1964-1985). 
A decisão judicial também obriga a União a garantir recursos pessoais e materiais para a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos e estabelecer um orçamento anual de R$ 3 milhões para o órgão.

Porque guardam tanto tempo?
Somente agora a Aeronáutica entregou, no início do mês passado, parte dos arquivos secretos que produziu durante a ditadura militar, após quatro anos de pressão do governo federal.
Os papéis inéditos são parte do acervo do Cisa - Centro de Segurança e Informação da Aeronáutica. Parte do acervo foi deliberadamente destruída, como permitia a legislação da época. Os termos dessa destruição, porém, também teriam sido inutilizados. 
Outra parte dos arquivos foi eliminada em incêndio no Aeroporto Santos Dumont, onde funcionava o Ministério da Aeronáutica.
A análise de alguns dos informes do Cisa indica que documentos importantes podem ter sido retirados antes da entrega ao Ministério Público Militar. Um desses sinais está presente no arquivo cujo título é "Top Secret". A folha, com marca de um grampo retirado, faz referência a documento que seguia em anexo. 
São quase 200 caixas com documentos secretos dos militares, produzidos entre 1964 e 1985 com informações sobre Ernesto Che Guevara, Fidel Castro e Carlos Lamarca, lideranças sindicais e estudantis.

Afinal, tinham o controle dos paramilitares?
Grande parte das ações da repressão e de torturas eram realizadas por paramilitares e instituições que eram mantidas por grupos de empresários que apoiavam financeiramente as operações. Com a descoberta em Santos de mais um local com arquivos e documentos do II Exército, Sudeste, a decisão da justiça em determinar que se identifique as ossadas encontradas no cemitério clandestino de Perus. 
Deixa a impressão que o Exército não tinha o controle das ações e desconhecia o paradeiro da documentação, até dos corpos das vítimas das torturas do DEOPS e DOI-CODI. 
E também dos desaparecidos, que até hoje não se tem nenhuma informação. Só quem pode dar uma resposta é a Comissão da Verdade, que alguns não querem ver criada. A comissão da verdade é indispensável.

Um direito de todas as famílias 
Membros da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos lutam na justiça ou em qualquer instância possível para terem o direito de saber o que aconteceu com seus entes e receberem seus restos mortais para enterrar, e ter o atestado de óbito, como se procede com qualquer cidadão. 
Relatam ainda que desde a anistia, 1979, lutam por seu luto inacabado. Até hoje, apenas quatro corpos foram encontrados dos 176 desaparecidos, os governos que sucederam os militares não acatam integralmente todos os pedidos e determinação do Comitê de Direitos Humanos da ONU e da OEA, para abrirem os arquivos secretos da ditadura e dar uma resposta concreta a todas as famílias. Veja alguns nomes no link do vídeo abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=OilNuUWlUqw
Se você conhece alguma história ou alguém que possa dar informações sobre documentos e de desaparecidos do período do regime militar, informe com total sigilo, pelo 0800 701 2441. Visite o site http://www.memoriasreveladas.gov.br/
Ajude a amenizar o sofrimento de quase 30 anos de muitas famílias brasileiras. Veja alguns depoimentos nesse vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=9v8uX-b3RB0


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