quarta-feira, 23 de junho de 2010

Gestantes sofrem com a privatização da saúde em São Paulo

A imprensa divulgou nesta terça-feira, 22/06, mais um fato negativo da política de saúde do governo paulista, a falta de anestésicos nas unidades de saúde aos usuários do SUS do Estado de São Paulo.
Essas informações que agora são mostradas por parte da imprensa, que insiste em não ver o que está em baixo dos olhos, ou das lentes das máquinas fotográficas, os servidores da saúde já sabiam e denunciam há muito tempo.
Especialistas e representantes de entidades de classe criticam a falta de anestesia em partos nos hospitais estaduais, municipais e filantrópicos que operam pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em São Paulo.
Um documento produzido pela Secretaria Estadual de Saúde, com base na opinião dos usuários do SUS, aponta que 24% das entrevistadas enfrentaram o trabalho de parto tomando a anestesia (raqui ou peridural) nas costas, 18,6% anestesia local, 14% banho morno e 42,8% remédios.
A presidente da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo, Desiré Callegari, acredita que o número (24%) de pacientes que tomaram a anestesia nas costas é baixo, mesmo considerando que uma grande parte dos partos feitos no SUS é realizada sem cirurgia abdominal.
Hoje, todas as mulheres devem ter o direito de não sentir dor, mesmo no parto normal. Se a pessoa toma anestesia para arrancar um dente, deve ter essa opção na hora de ter um filho.
É um consenso médico. E todos sabemos que existe um percentual menor de opção pela anestesia correta no SUS”, declarou dirigente do conselho estadual e federal de Medicina.
A tendência da medicina moderna é fazer a anestesia nas costas em todas as cirurgias. Há, sim, casos em que a anestesia não é indicada. Mas, no geral, a recomendação é que seja aplicada a chamada raquidiana ou peridural.
São duas as principais causas para o problema. Primeiro, inclusive por falta de orientação, as grávidas muitas vezes chegam ao hospital já em um estágio avançado para ter o bebê.
É “vergonhoso” o fato de que 42,8% das pacientes entrevistadas na pesquisa tomaram apenas remédios para aliviar a dor (no caso dos partos normais).
“Os remédios injetados via endovenosa ou intramuscular atingem a circulação rapidamente, o que pode aumentar a exposição materna e fetal pela medicação”, diz a chefe de Anestesia do hospital Santa Joana e chefe do serviço de Anestesia Obstétrica da maternidade Pró-Matre.
Como ela indica, tomar remédios e não uma anestesia (raqui ou peridural) deveria ser limitado a um grupo muito pequeno de mulheres, como as que têm problemas de coagulação. Deveria ser a técnica de exceção e não de rotina.
Na rede privada, 95% das mulheres dão a luz com anestesia nas costas. Toda mulher tem o direito de ter um parto sem dor. E hoje as técnicas permitem que as dores no parto normal sejam diminuídas sem nenhum tipo de prejuízo para as contrações.
Mas, em São Paulo as privatizações e terceirizações dos serviços de saúde apontados pelas entidades da categoria e pelo Sindicato dos Trabalhadores da Saúde causaram o que eles testemunham e convivem no dia a dia a "fila de mão dupla", onde o paciente particular tem prioridade sobre os usuários do SUS.
Em entrevista a imprensa no fim do ano passado o secretário de saúde do Governo Serra, Luís Roberto Barradas, declarou que reconhecia que existe a dupla fila de atendimento no Hospital das Clínicas e INCOR, só para citar um dos hospitais públicos.
Demonstrou preocupação em repetir a mesma situação do Hospital das Clínicas e do Instituto do Coração, com a aprovação da lei das Organizações Sociais (OSs), que permite a cobrança nos hospitais públicos.
Segundo ele, não poderia ser repetido o "erro" do InCor e do Hospital das Clínicas, que têm "dupla fila" - uma rápida para os planos de saúde e outra lenta para o SUS.
Para isso, só após o atendimento é que o hospital identificará se o paciente tem convênio médico ou não.
Pelo sistema atual, o plano deve ressarcir o SUS. "Mas o valor pago ao SUS é muito baixo. Nem todas as operadoras pagam".
O secretário não sabia o motivo de constar, na emenda das OSs o limite de 25% e a referência a pacientes particulares. A emenda foi aprovada pela bancada de apoio ao governo Serra que representa mais de 70% da Assembleia Legislativa, e que não consultou a secretaria de saúde para redigir o texto da emenda ao projeto, segundo Barradas.
Somados, o caso do desvio dos recursos da saúde para o mercado especulativo do sistema financeiro, apontado pelo Ministério Público Estadual e Federal, que em vez de ir direto departamento de saúde para poder comprar medicamentos e as terceirizações da saúde praticadas pelo governo estadual resultam nesse caos na saúde pública paulista.
O que já vinha denunciado há muito tempo pelos servidores da saúde e entidades de classe dos trabalhadores da saúde, a prioridade no atendimento para os pacientes particulares.
Agora é manchete na mídia golpista que escondeu por muito tempo a pesquisa negativa do governo estadual paulista na área de saúde e os efeitos desastrosos das privatizações e terceirizações dos serviços em hospitais públicos, como este em que faltam anestésicos para gestantes em trabalho de parto atendidas pelo sistema único de saúde.

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