Desde o início da campanha em quase todos locais que Serra andou é notório a falta de populares em sua volta, ausência de militância nos comícios, que até chegaram a ser desmarcados. Como foi o caso de Itabuna na Bahia.
Serra pode andar tranquilamente pelas ruas e praças sempre rodeado só por cinegrafistas, fotógrafos da campanha ou da imprensa local.
O candidato do PSDB à presidência, José Serra, disse que a questão não passa de um "ti-ti-ti". No entanto, a ausência de material de campanha do tucano nas atividades dos aliados, e até mesmo em suas próprias, tem preocupado lideranças de sua legenda e dos partidos que integram a coligação - DEM, PTB e PPS.
Para aliados e tucanos, a campanha de Serra nas ruas não está se fazendo visível. Alguns chegam a afirmar que se dá peso excessivo à televisão em detrimento da campanha à moda antiga: distribuição de panfletos, bandeiras, santinhos e adesivos. Falta de dinheiro e envolvimento das bases é também assunto recorrente nas poucas mesas de diálogo ainda estabelecidas entre os partidos.
O membro do diretório municipal do PSDB de Uberlândia, Benito Salomão, engrossa o coro por mais material de Serra. Nesta segunda-feira (9), o candidato ao governo de Minas Gerais, Antonio Anastasia, fez uma carreata pela cidade. Abaixo, um relato de Salomão sobre a (falta de) distribuição de material: "Faltou tudo! Não tinha uma bandeira, não tem um adesivo de carro, nem um santinho com a imagem de Serra. Não tinha nada! A única coisa que eu vi com referência a Serra na carreata foi um folheto que distribuíram e que tinha na contracapa a foto dele com Itamar, Aécio e Anastásia. A população sente falta da campanha na rua aqui. Se não tomar uma atitude, vai acontecer o mesmo que ocorreu com a campanha de Geraldo Alckmin em 2006".
Em sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo ainda nesta terça, o governador mineiro e candidato à reeleição negou que haja no Estado "corpo mole" na campanha de Serra. A falta de referências ao tucano paulista nos materiais, justificou Anastasia, se dá "em respeito" aos aliados estaduais. "(Há) partidos coligados a nós aqui, mas que apoiam a candidata Dilma Rousseff na esfera federal".
Para evitar situações como as descritas por Benito Salomão e enfatizadas pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, o comando da campanha tucana resolveu aumentar as encomendas de material de campanha e reforçar a ajuda financeira aos estados em que o partido está em situação competitiva fraca, segundo o presidente da sigla, Sérgio Guerra.
O candidato já faz visitas semanais a Minas Gerais e Rio de Janeiro e surpreendeu a imprensa com uma viagem não programada a Pernambuco, onde prefeitos e deputados de seu próprio partido declaram apoio ao adversário Eduardo Campos, do PSB. Ajuda financeira já foi garantida a Pernambuco, onde o candidato da coligação, Jarbas Vasconcelos, do PMDB, enfrenta crise com Guerra.
Enquanto se tenta resolver os problemas de material e dinheiro, integrantes da campanha apontam para a falta de articulação e envolvimento das candidaturas locais com a nacional. Como aconteceu no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia durante visitas de Serra aos estados.
Na última visita ao Rio, Serra teve que pedir para seu jingle ser tocado entre um samba e outro do popular prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito dos Santos, cabo eleitoral de sua filha e esposa, candidatas a deputada federal e estadual respectivamente. Em São Paulo, reduto tucano, o material de campanha de Serra ficou ofuscado em meio às bandeiras de candidatos à Câmara dos Deputados.
Até mesmo em São Paulo, Estado governado por Serra até março deste ano, falta campanha nas ruas. Alertados da ausência de material em visita ao bairro Heliópolis (SP), na atividade seguinte, no Mercado Municipal da capital paulista, integrantes da equipe de comunicação, alguns a contra-gosto, balançavam bandeirões azuis e amarelos com a imagem de Serra estampada.
Na Bahia, a desarticulação de alguns eventos causou a entrada do ex-deputado Murilo Leite na coordenação da campanha Serra no Estado. Tucanos negam que o ex-prefeito de Salvador e presidente estadual do PSDB na Bahia, Antônio Imbassahy, tenha saído do posto de coordenador estadual da campanha presidencial.
"Estava faltando material mesmo e mandamos fazer mais porque a demanda é muito grande e o outro lado tem material demais. Agora, eu andei pelo Brasil e não vi campanha da Dilma, material dela. Eu vi material do Lula com os candidatos", afirma Guerra, que coordena a campanha nacional do PSDB.
O coordenador da campanha viajou a Minas Gerais na última terça-feira para, segundo ele, se interar da situação das candidaturas no Estado e se reunir com o ex-governador Aécio Neves. Entre os assuntos com o mineiro, a relação com o DEM.
Os recentes ruídos entre o PSDB e DEM estão sendo justificados por falta de verba destinada às candidaturas majoritárias e proporcionais nos Estados. Entre os tucanos, fala-se que as desavenças são fruto também da indisposição de Serra com Rodrigo Maia, e este tem se sentido alijado da campanha nacional.
Para minimizar os efeitos da falta de protagonismo dos aliados na campanha, o presidente do PSDB tem divulgado medidas que os incluiriam nas atividades. Há quase um mês, os tucanos criaram um conselho político, com FHC, Aécio Neves, Serra e os presidentes do DEM, PPS e PTB, que faria reuniões quinzenais.
Os encontros, no entanto, nunca aconteceram. Foi criada também uma caravana dos presidentes das siglas, que sairia Brasil a fora para assegurar a campanha nos Estados. Os aliados ainda não viajaram com este intuito.
(Celso Jardim com dados de Marcela Rocha-FSP)
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