Os elogios pipocam por todos os lados. A candidata que muitos consideravam uma espécie de fantoche do ultrapopular Luiz Inácio Lula da Silva é hoje descrita como uma presidente de personalidade própria, equilibrada e pragmática. A imagem adquirida por Dilma Rousseff junto a analistas, jornalistas e políticos é de uma chefe de governo capaz de rejeitar posições do seu próprio mentor e resistir ao fisiologismo de membros do Congresso.
Uma das medidas do governo que mais conquistaram admiradores foi o corte de R$ 50 bilhões no orçamento da União, anunciado pelo ministro Guido Mantega. A revista britânica The Economist, que defendeu a eleição do tucano José Serra, elogiou o maior compromisso do governo até agora com a austeridade fiscal, em contraste à herança deixada por Lula. Na mesma linha, o respeitado diário Financial Times escolheu o adjetivo "sólido" para descrever o início de governo da primeira mulher presidente do Brasil.
O jornal, que também havia declarado preferência por Serra na fase final da campanha, elogiou o fato de a petista ter sinalizado uma posição diferente da do governo Lula em relação a violações de direitos humanos no Irã. As diferenças entre criador e criatura também foram observadas pelo espanhol El País, que destacou uma suposta preferência de Dilma pelos caças americanos da Boeing para a Força Aérea Brasileira, em vez do francês Rafale, defendido pelo antecessor. Em apenas 45 dias no Planalto, Dilma Rousseff é um sucesso de crítica.
A boa impressão não tem se limitado à imprensa e analistas. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que as primeiras semanas da petista como chefe da nação foram uma "surpresa positiva". Trata-se de um reconhecimento importante de um dos maiores nomes da oposição e adversário de Lula na histórica, e às vezes cansativa, disputa sobre quem fez mais pelo Brasil.
Mas quem importa para a presidente Dilma são os políticos em atividade, especialmente aqueles que, no papel, pertencem à sua base de apoio. Em sua primeira batalha na Câmara dos Deputados, por um aumento do salário mínimo mais modesto do que queriam centrais sindicais e a oposição, Dilma venceu com uma margem de mais de 200 votos. Além de reafirmar seu atual controle sobre sua base, expôs as fraquezas da oposição, formada por partidos que costumavam defender a austeridade, mas tentaram abraçar uma bandeira oposta devido a seus objetivos políticos.
Um admirado início de governo, no entanto, está longe de representar a certeza de sucesso. Uma lua-de-mel seguida de períodos desastrosos é tão comum na carreira de governantes como na vida de casais antes apaixonados. A primeira preocupação de Dilma Rousseff é com os problemas que estão à sua frente, que incluem o avanço da inflação, o enfraquecimento de parcela da indústria devido ao real fortalecido e o estado lamentável da infraestrutura nacional.
Como se não bastasse a necessidade de oferecer estradas, portos, aeroportos e energia elétrica apenas para administrar as necessidades básicas de uma economia em crescimento, o Brasil ainda tem de organizar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada nos próximos cinco anos. E não poderá sair gastando como se não houvesse amanhã, o que nos leva à segunda grande preocupação da presidente.
Além de tomar medidas equilibradas e sensatas para proteger a economia, ela precisa também ser adorada pelos eleitores, mesmo adotando políticas supostamente impopulares. Só assim conquistará nas urnas um segundo mandato. Já respeitada pela crítica, Dilma Rousseff terá de mostrar se consegue ser também um sucesso de público.
Com BBC Brasil
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