Acusado de espionar o ex-ministro Tarso Genro, atual candidato do PT ao governo estadual e vários diretórios do Partido dos Trabalhadores, o sargento César Rodrigues de Carvalho, da Brigada Militar, não vasculhou os dados pessoais dos adversários políticos do PSDB por sua própria iniciativa.
“Ele recebia ordens para acessar os dados, mas ignorava o destino que a informação teria”, disse ontem seu advogado Adriano dos Santos Pereira.
Segundo o advogado, quem determinava ao sargento para obter as informações sigilosas era o tenente-coronel Frederico Bretschneider Filho, “entre outras pessoas”, cujos nomes não declarou. Mas deixou claro que seu cliente não assumirá responsabilidades que, no seu entender, não são suas.
“Com certeza, ele vai colaborar com as investigações”, adiantou.
O tenente-coronel Bretschneider Filho atuava na Casa Civil da governadora Yeda Crusius (PSDB) até segunda-feira passada. Três dias depois do escândalo vir à tona, ele pediu exoneração. Bretschneider Filho nega ter ordenado a arapongagem. Mais quatro pessoas vinculadas ao governo tucano estão sob investigação policial. Ontem, o promotor de justiça Amílcar Macedo, que responde pelo caso, reiterou que não veiculará seus nomes, uma vez que o processo é desenvolvido em segredo de justiça.
“Posso dizer apenas que são dois oficiais e dois civis”, declarou.
A edição online do jornal Correio do Povo registrou que um dos civis poderia ser a assessora Walna Vilarins Menezes, braço-direito da governadora. Macedo recusou-se a confirmar ou desmentir. A suspeita sobre Walna surgiu devido ao fato dela ter sido investigada nas operações Rodin e Solidária, ambas da Polícia Federal, que averiguaram o sumiço de R$ 340 milhões dos cofres gaúchos. Pereira, porém, notou que Carvalho não citou a assessora entre seus contatos diretos.
Funcionário da Casa Militar, o sargento ocupa o epicentro de uma tempestade política depois que foi preso, na sexta-feira, apontado como autor de extorsão contra um dono de bingo de Canoas, cidade da região metropolitana de Porto Alegre. Carvalho foi denunciado pelo empresário, cansado de lhe pagar propinas em troca de informações reservadas sobre ações da polícia contra o jogo. As investigações logo se moveram na direção de algo bem maior do que um achaque.
Descobriu-se que Carvalho, usando sua senha do Sistema de Consultas Integradas do Palácio Piratini, que permite acessar informações sigilosas de pessoas e entidades, fez mais do que espionar Tarso Genro e o PT. Xeretou dados pessoais do senador Sérgio Zambiasi (PTB), do coordenador da campanha estadual do PT, ex-deputado Flávio Koutzii, de dois deputados do PTB e do ex-vice prefeito de Porto Alegre, Eliseu Santos, assassinado em fevereiro deste ano. Bisbilhotou também jornalistas, advogados e policiais.
O caso da deputada Stela Farias (PT) é ainda mais grave. Presidente da CPI da Corrupção, que investigou o desvio de dinheiro público na administração do PSDB ela teve sua família investigada. Carvalho acessou dados, fotos e itinerários de seus três filhos, um deles com oito anos de idade. A deputada relembrou que, em junho de 2009, recebeu informação anônima de que seus telefones estavam grampeados.
As suspeitas sobre o uso Sistema de Consultas Integradas sob a gestão do PSDB são antigas. Em 2009, o então ouvidor da segurança pública, Adão Paiani, acusou o chefe de gabinete de Yeda, Ricardo Lied, de empregar o equipamento para espionar políticos.
“Queremos saber o que acontecia na época e se as pessoas são as mesmas”, comentou Macedo.
Para o promotor, no que tange à espionagem de adversários, Carvalho agiu a mando de alguém. “Não tenho a menor dúvida disso”, enfatizou.
Fonte: Brasília Confidencial
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