quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Dona Maria da Vila Maria

Muitos blogueiros e internautas vivem escrevendo que o paulista não sabe votar, e questionam como que ainda votam nos demotucanos em São Paulo.
Há um tempo atrás contei uma história sobre o perfil da classe média conservadora paulistana, vou reproduzir que talvez ajude os companheiros de outros estados a entenderem melhor, como enxerga a política os eleitores dos demotucanos, "A Dona Maria da Vila Maria".
Dona Maria mora passando o campo da Portuguesa, pela marginal do Tietê, seu pai era cabo eleitoral de Jânio Quadros, e no bairro difícil achar alguém que não se lembre do ídolo, e até juram que viram as forças ocultas, as mesmas que levaram Jânio Quadros a renunciar em a presidência da República em 1961.
O tio da Dona Maria foi membro ativo do movimento separatista, em 32, Dona Maria acha certo que São Paulo deveria ser separada dos demais Estados.
A irmã de Dona Maria, a Justina, esteve na passeata da Tradição, Família e Propriedade em 64, antes do golpe militar, e foi até de vestido novo. 
Cachimbo, apelido do irmão da Dona Maria agora mora com ela, ele morava no centro da cidade e teve que mudar porque não aguentou mais conviver perto dos viciados da Cracolândia. E vive resmungando, em vez do governo do estado acabar com a Cracolândia, nós é que temos de mudar dali".
Dona Maria é casada com Fernando do “Banespa”. O banco foi privatizado mudou de nome, mas ainda ele é chamado assim até hoje. Quando o banco foi privatizado Fernando perdeu uma série de direitos trabalhistas foi iludido pelo governo tucano de São Paulo.
Hoje o marido da Dona Maria, ainda conhecido como Fernando do Banespa, está aposentado. E reclama muito quando o seu xará, o ex-presidente Fernando Henrique, inventou o fator previdenciário, que diminui muito sua aposentadoria.
Dona Maria tem dois filhos, Clara e Ernesto, nome em homenagem ao general Geisel. Clarinha tem um filho de 15 anos, o Kiko, apelido de Henriquinho, fruto de um romance socialdemocrata, o pai só vai assumir a paternidade do filho quando este completar 18 anos.
Clarinha comprou um carro depois de muito tempo, graças aos longos financiamentos da política econômica do governo Lula. Estava muito feliz, até perder o carro na enchente perto de casa quando o rio transbordou alagando a marginal do Tietê.
Muito triste Clarinha diz que vai ser difícil comprar outro, por causa do Fernando. Seu pai? pergunta a Dona Maria, "Não mãe, do banco de horas que foi inventado no governo Fernando Henrique", responde a filha.
Não vou conseguir pagar prestação de um novo carro, sem receber hora extra como eu ganhava antes, esbraveja. De quem é a culpa por não resolver esse problema do rio Tietê, que vive alagando até aqui na nossa rua, não teriam que limpar o fundo do rio? Clara não soube explicar.
O outro filho de Dona Maria, Ernesto, é vendedor autônomo e sua região de atuação é o interior paulista, não sai das estradas. Vive reclamando que grande parte de suas comissões ficam nas praças de pedágio. Quem inventou esses inúmeros pedágios, pergunta. Ninguém falou nada.
Socorro, a esposa de Ernesto, é professora do Estado e faz 15 anos que não tem aumento, só abono que não é incorporado ao salário dos professores, além de ficar mudando toda hora de escola, porque agora ele é professora temporária, invenção do governador Serra. 
O duro Dona Maria, diz a nora Socorro, é que tenho que aprovar os alunos que mal sabem escrever, por causa do tal da "progressão continuada", a gente tem que passar o aluno de série. Mas quem inventou isso?, pergunta a Dona Maria.
Ernesto comprou recentemente uma casa financiada na Caixa pelo programa do governo federal, “Minha Casa, Minha Vida”. A outra casa que tinha perdeu, para pagar dividas de sua empresa que exportava minérios de ferro.
Quando foi privatizada a Vale do Rio Doce no governo do xará de seu pai, Ernesto perdeu tudo. Acredita que com a criação de mais de um milhão de empregos nesse ano possa aparecer um melhor que o atual.
A família de Dona Maria se reúne todo domingo para almoçar, antes brigam para ler o jornal que mais gostam, a Folha de S.Paulo, e no almoço sempre falam de política.
Clarinha apesar de ter perdido o carro está esperançosa, e começa a pensar no natal e programar como vai ser a ceia, a mãe, Dona Maria disse que não quer mais fazer panetone em casa, pode dar azar pelo que andam falando por aí que tem gente que foi presa porque deu panetone para quem precisa. E é do mesmo partido do nosso prefeito Kassab.
Fernando, o do “Banespa” e o filho Ernesto discutem na sala, após verem na TV o governador Serra, em quem votaram, dar uma entrevista e dizer, “vou ampliar o Bolsa Família”.
Mas, pai eles não falavam que isso era o bolsa-esmola? Fernando, o pai, com ar professoral falou, isso não tem nada a ver como nossa família, isso é coisa lá do norte.
Mas, pai exclama Ernesto, "Eu li que só aqui em São Paulo tem mais de um milhão de famílias que recebem o Bolsa Família, e ainda pai você viu como aumentou a classe média?
"Não foi isso, foram os ricos que ficaram mais pobres", diz Fernandão do Banespa.
Na região norte da cidade onde fica, a Vila Maria, era um grande reduto de Jânio Quadros, hoje é dos demotucanos, o PSDB e o DEM.
Dona Maria não gosta muito de falar de política, achava o outro Fernando, o ex-presidente Fernando Collor, muito bonito, sobre FHC acha que foi um homem maravilhoso para as empresas de fora do país, e que Lula não é muito parecido com os artistas que vê todo dia nas novelas.
E Dona Maria diz, no jornal antes da novela o casal da Globo não fala bem do Lula. Eu não entendo, porque em todo lugar do mundo o Lula é destaque, uma estrela. Também não sabe o que quer dizer esse prêmio que ele ganhou na Inglaterra, de estadista do ano.
Essa é a família de Dona Maria da Vila Maria, igual a tantas outras de classe média da cidade paulistana, umas com sobrenome mais tradicional, estilo quatrocentão, outras com sobrenome como o da família de Dona Maria, Vista Curta.

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